quarta-feira, 28 de abril de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

O Gerês por Miguel Torga V

Carvalho de Calvos

O majestoso Carvalho de Calvos é um magnífico exemplar da espécie Quercus robur L. classificado como árvore de Interesse Público desde 1997.
Assim a Póvoa de Lanhoso desde já o convida para visitar o Carvalho (Querus robur) mais antigo da Península Ibérica com uma idade compreendida entre os 480 e 520 anos.

Este belo exemplar de Carvalho na foto, não se situa nos territórios do PNPG, mas fica num concelho próximo.Pela importância desta árvore não podia deixar de a fazer se acompanhar deste sublime poema de Miguel Torga...



A UM CARVALHO


Eis o pai da montanha, o bíblico Moisés
Vegetal!
Falou com Deus, também...
E debaixo dos pés, inominada, tem
A lei da vida em pedra natural!


Forte como um destino,
Calmo como um pastor;
E sempre pontual e matutino
A receber o frio e o calor!


Barbas, rugas e veias
De gigante,
Mas, sobretudo, braços!
Longos e negros desmedidos traços,
Gestos solenes duma fé constante...


Folhas verdes à volta do desejo
Que amadurece.
E nos olhos a prece
Da eternidade.
Eis o pai da montanha, ó fálico pagão
Que se veste de neve, e guarda a mocidade.


Miguel Torga - Diário V

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Portela de Leonte - Prados do Mourô


24-01-2010

Esta caminhada na companhia da Sandra, foi mais uma prova de que não são necessárias muitas horas de marcha para se poder encontrar lugares simplesmente fantásticos, de tal maneira envoltos de um profundo silêncio e misticismo que não parecem pertencerem à realidade...Foi uma tarde de inverno simplesmente mágica e retemperadora para o corpo e para a alma.
A partir desse dia Prados do Mourô passou a constar num dos meus locais de eleição, neste que é sem sombra de dúvida o mais belo cantinho do Mundo...

Não bastava o belo final de tarde no Mourô... A Serra ainda nos premiou com um fantástico pôr-do-sol no Miradouro da Pedra Bela.












Texto e Fotografias: David Gonçalves

terça-feira, 13 de abril de 2010

O Bufo-real (Bubo bubo)



Bufo-real (Bubo bubo) pertence à Família Strigidae onde se incluem as aves de rapina nocturnas vulgarmente denominadas mochos e corujas. No entanto, esta espécie, com os seus 70 cm de altura, é a ave de rapina nocturna de maior porte em todo Mundo.

O bufo-real vive em territórios que protege e marca através das suas poderosas e características vocalizações (um "HOO-o" audível a mais de 5 km), fazendo-se ouvir mais frequentemente durante o Inverno, altura em que se inicia a sua época de reprodução. Estas aves alimentam-se principalmente de coelhos e ratazanas, tendo no entanto um espectro alimentar muito vasto que inclui um grande número de mamíferos carnívoros (por exemplo raposas, gatos e cães) e aves de rapina diurnas e nocturnas. Este papel de superpredador ou predador do topo da cadeia alimentar (só partilhado na Europa, pelo Lobo e a Águia-real), faz com que o bufo-real seja uma espécie muito importante nos ecossistemas onde habita, pois controla o número e densidade de outras espécies de predadores. Além disso, por ser uma espécie sensível às actividades e interferências humanas no meio, o bufo-real é uma espécie-chave do ecossistema onde habita, tendo uma grande relevância como espécie-indicadora da qualidade ecológica dos ecossistemas.

bufo-real no Mundo… e em Portugal

O bufo-real é uma espécie de ampla distribuição ocorrendo na maioria da Eurasia e Norte do Continente Africano. No entanto, esta espécie tem sofrido durante o último século um declíneo acentuado, principalmente devido à acção do Homem, ou seja, pela perseguição directa que lhe é movida por ser tida como uma espécie "destruidora da caça" ou pela rarefacção das suas presas principais e de zonas desabitadas e inóspitas que necessita para sobreviver. Este declíneo tem sido mais evidente nas zonas mais humanizadas, o que se verifica na Europa, onde a área de distribuição desta espécie se encontra bastante fragmentada, sendo muito rara na maior parte das regiões onde ocorre.

Em Portugal o bufo-real apresenta uma área de distribuição descontínua, sendo de crer que as regiões do interior, mais inóspitas e desabitadas, sejam aquelas onde a espécie é mais comum. A nível nacional é classificado pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, como sendo uma espécie "Rara" e em regressão. No entanto, a sua situação populacional é muito mal conhecida, não existindo no nosso País, até à data, qualquer trabalho científico acerca da ecologia e da distribuição desta rapina, nem estimativas do seu efectivo populacional.

Mais um projecto do GEVT-Grupo de Estudo de Vertebrados Terrestres

Tendo em conta a importância ecológica do bufo-real e o grande desconhecimento científico que o envolve, o GEVT desde 1998 tem vindo a desenvolver um estudo sobre este rapina no Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG). É objectivo deste estudo contribuir para um melhor conhecimento da distribuição do bufo-real na área do PNPG, onde a sua situação é muito mal conhecida. Além disso, a importância deste estudo reside no facto desta rapina nocturna ser considerada uma espécie-indicadora ameaçada e a área de estudo constituir a única área protegida nacional com estatuto de Parque Nacional. Este estudo consiste na definição de áreas de ocorrência da espécie nos últimos anos, estimativa de número de casais e detecção da existência de nidificação.

Por ser uma ave nocturna e esquiva o bufo-real é, apesar das suas dimensões, uma espécie de difícil detecção e observação, sendo consequentemente bastante difícil o seu estudo. Desta forma, a metodologia utilizada consistiu não só nas observações ou detecções por nós efectuadas desta espécie mas também a compilação de observações directas de bufos-reais efectuadas por outros naturalistas, funcionários do PNPG, pastores, caçadores e outros. Até à data foram detectadas 13 áreas de ocorrência de bufo-real no PNPG que poderão corresponder a um número idêntico de casais reprodutores.



Futuro
No futuro, o GEVT pretende desenvolver um estudo ecológico mais aprofundado desta espécie no Baixo Alentejo, área onde o bufo-real ocorre em densidades bastante superiores às encontradas nas montanhas do Norte da Península Ibérica. Este estudo pretende ser bastante mais aprofundado do que o realizado no PNPG, uma vez que focará aspectos da distribuição, densidades, alimentação, reprodução e conservação do bufo-real nesta região alentejana.

Tudo isto é o contributo do GEVT e da AJC para o conhecimento desta ave de rapina espectacular. Conhecimento este imprescindível se queremos definir e aplicar medidas de conservação que contrariem a regressão e perseguição que o bufo-real sofre actualmente. Medidas estas que poderão permitir às gerações vindouras ouvir, numa noite de Inverno e no vale inóspito de um rio algures em Portugal, um dos sons mais belos da natureza: o cantar de um casal de bufos-reais em plena corte nupcial.

In: Jardim Digital
Fotos: Portal ICNB / Aves de Portugal